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[02] nossos corpos devem estar em algum lugar - notas sobre “queimando cromo” (1982) de william gibson
léo pimentel, no calango hacker clube , inverno, 2015
§01. ciberespaço, a fronteira final… este é o lugar mais recente para ser povoado, em extensão da natureza enganosa da inteligência, para antigos preconceitos audaciosamente irem onde nenhuma ideia de liberdade jamais esteve.
§02. ciberespaço: obeliscos, torres de vigilância, catedrais, palácios e latifúndios de informações ordenados no incolor não-espaço do big-bang de simulações. utopia da simetria higienizada e purificada do tecnológico sobre o social.
§03. digitalismo como ideologia gelada da alucinação consensual que, mesmo alimentada pela contracultura punk e anárquica dos anos 1980, apenas facilita a manipulação das multidões e o intercâmbio de enorme quantidade de informações para a especulação financeira e para a guerra.
§04. pirata informático, o único gesto possível que ameaça todo o sistema de exploração digital. aquelx que está fora de lugar que se opõe à sociedade em suas práticas sociais da alucinação consensual.
§05. sabotagem semiótica ao sistema financeiro: nem o dinheiro em si mesmo, ou o que ele representa é suficiente para que o amemos e sigamos rumo às suas luzes – exercitar o anti-trabalho em seu vagabundear do conhecimento, do autodidatismo e do prazer intelectual.
§06. o grande inimigo é a produção dinâmica, ao longo de toda extensão virtual do ciberespaço, do desengajamento da materialidade e de sua natureza financeirista da tecnologia e do conhecimento.
§07. no vórtice da hipertrofia contemporânea dos signos e do entusiasmo digital, nossos corpos foram substituídos por algo imaterial? tornaram-nos incorpórexs? onde está nossa fome, nosso desconforto, nossa excitação sexual? nossos corpos devem estar em algum lugar.
— obs: segundo texto lido no clube de leitura e laboratório de ideias: cyberpunks e a ética pirata. ciclo #01: antiguidade cyberpunk - “burning chrome” (1982)