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[04] trabalhadores do mundo: relaxem! - notas sobre “islands in the net” (1989) de bruce sterling
léo pimentel, no calango hacker clube , primavera, 2015
§01. persona optima: arquétipo pessoal cuja existência se dá como uma espécie de miragem. supostamente cada pessoa teria seu duplo, sua réplica imaterial desligada de seu suporte físico, de seu corpo. um duplo gerado a partir da hipertrofia digital e do entusiasmo sobre a rede.
§02. a prostituição atingindo o status de religião. assim como a guerra e como o mercado. o sexo, a violência e o capital de mãos dadas cumprindo funções sociais megalômanas paternalistas em um triângulo amoroso patriarcal que gira melhor que a roda. mercados, governos e templos se alimentando mutuamente.
§03. a “mãe terra” passa a ser respeitada, mas apenas enquanto cumpre seu papel dentro do ecocapitalismo avançado. tudo é funcional e produtivo. a sacralidade de tal “maternidade” se dá tal qual o sacro papel social da mãe, cujo respeito só lhe foi garantido quando se casou com o desenvolvimentismo capitalista das multinacionais em vias de se emancipar das nações.
§04. o futuro é pseudo-feminista, futurismo vitorioso de um “feminismo” que triunfou apenas por se masculinizar – de vítimas passaram a serem algozes da opressão patriarcal. a igualdade de gênero foi alcançada, ao custo da aniquilação de toda a diversidade política dos feminismos efetivamente libertários.
§05. as redes de comunicação colocaram em contato niilismos sociais que de outra forma permaneceriam isolados, tornando-se possível todo o tipo de realismo conformista prosperar pelas redes sociais. o interesse das pessoas está completamente absorvido pelas coisas que podem lhes chegar via fibra óptica: jogos, negócios, programas de tv, etc.
§06. o conflito de gerações é o mesmo de sempre: a geração atual achando, ou que as respostas aos males do mundo estão com ela, e assim que a geração passada fracassou; ou que não têm responsabilidade histórica nenhuma; e a geração passada achando que a atual é uma espécie de degeneração da sua por não pactuarem com seus projetos para o mundo.
§07. a propriedade intelectual, as patentes, os direitos autorais e as marcas registradas atribuíram um valor excessivo à tecnologia, seja ela engenharia genética, transplante de órgãos, substâncias neuroquímicas ou produtos eletrônicos de ponta. criando com isso todo um sistema de exploração de corporações multinacionais e seus respectivos mercados ilegais que os retroalimentam.
§08. há paraísos informáticos como há paraísos fiscais. a pirataria informacional aparece apenas para revelar que a informação, há muito, perdeu seu valor de uso ou de troca, que agora seu maior valor é uma espécie de valor de abuso. como são as obras de arte para seu mercado, onde a falsificação não é de todo ruim, pois faz circular uma economia muito rentável.
§09. as nações se unem para garantir os interesses comerciais e diplomáticos de seus respectivos governos visando se tornem uma espécie de supernação única: polícia e moral global. no entanto, as multinacionais fazem o mesmo só que para se tornarem uma espécie de supranação – organização acima de qualquer interesse nacional, inclusive, mantendo um exército livre para garantir um novo ordenamento mundial.
§10. a grande ameaça para ambas as megaestruturas globais de controle, os governos e as multinacionais, é a imaginação e a criatividade de vários grupos pequenos. por estes terem a inovação e o ativismo, de que toda informação deva ser livre, como pilares de suas existências.
§11. o poder das multinacionais se consolida por suas estruturas terem se tornado: existencialmente, tribais, morre-se e vive-se por elas; e sua administração ora uma “democracia econômica”, tal qual o sistema eleitoral estadounidense, ora uma “mafiocracia econômica” tal qual o capitalismo sem culpa e livre de dúvidas.
§12. o mundo mudou: guerras não são mais travadas entre governos, entre nações, mas sim entre empresas e nações em uma empreitada neo-colonialista: exércitos autônomos, financiados por empresas, sem nenhum suporte legal de nenhuma nação, chantageando e invadindo nações soberanas.
§13. a desobediência civil mais radical é a vagabundagem: desacata-se a norma de que, obrigatoriamente, tem que trabalhar. não ser produtivo é o laissez-faire anárquico por excelência, onde todo governo e toda empresa pode ruir sem esforço algum: “trabalhadores do mundo: relaxem!”.
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obs: quarto texto lido no clube de leitura e laboratório de ideias: cyberpunks e a ética pirata. ciclo #01: antiguidade cyberpunk - “pirata de dados” (1989) de bruce sterling